Muito se tem falado de Donald
Trump e dos seus primeiros dias a frente dos Estados Unidos. Para mim, encarna
tudo o que há de mal no ser humano. Não sabe o que é a diplomacia, trata da
política com o eu quero, eu posso, eu mando. Não ouve ninguém, muito menos
vozes que venham do outro lado da fronteira. Organiza a sua administração como se
fosse uma empresa sua, e implementa a lei do esclavagismo, própria das raízes
dos estados sulistas que tanto contribuíram para a sua eleição. Não existe ninguém
ao seu nível, ele é superior a Deus, Alá e outros. Só lhe falta publicar um
livro com o título “My fight” para ter a panóplia necessária para converter o
povo Americano, no ser vivo de eleição, o único a poder respirar o ar que
preenche a nossa atmosfera, pois para os restantes, há-de sobrar o dióxido de
carbono. Não tenho dúvidas que noutros tempos, este Donald seguiria uma lista
extensa de ditadores que aprendemos a ler nos nossos manuais de história, tais
como Hitler, Stalin, Mussolini, Pinochet e Kim Jong-Il. Mesmo assim, não
podemos dormir completamente descansados, apesar dos tempos serem diferentes, a
sua persistência não tem limites. Menos descansados ficamos ainda, sabendo que
tem uma base de apoio popular conquistada em poucos meses. Não me canso de repetir que um dos maiores
criminosos que a humanidade teve a tristeza de conhecer, falo pois de Hitler,
foi eleito democraticamente. Mas ao contrário de Donald, Adolf ainda precisou
de mais de uma década de propaganda e alguns meses de prisão para chegar a
chanceler Alemão.
Esta eleição surpresa do outro
lado do Atlântico provocou uma onda de esperança dos partidos de extrema-direita
na Europa. Reconheço que me chocou ver aquela reunião de populistas na Alemanha
no passado mês de Janeiro, liderada pela Marine Le Pen, a filha do histórico
presidente da FN Jean-Marie Le Pen. Para termos um pouco a noção do calibre
intelectual dessa pessoa, basta relembrar que ela sempre afirmou, de uma forma
convicta, que as câmaras de gás foram um detalhe da história. Pois bem, a filha
desse senhor tem já garantido um lugar para a 2º volta das Presidenciais em
França (segundo as sondagens). É certo que não é crível que saia vencedora, no
entanto, é assustador pensar que um dia possa ganhar. Esse descalabre
aconteceria no país que ensinou todos os outros a se livrarem das tiranias das
monarquias, e que conta na sua história com uma tradição vincadamente laica e culturalmente
pluralista. Mas afinal, a liberdade poderá colocar em risco a democracia? Para mim a resposta é
muito simples. A história mostra-nos com clareza que não podemos deixar
qualquer tipo de doutrina ser impingida às massas sob o pretexto de existir
liberdade de expressão. Ideologias como as que são defendidas por pessoas como
Marine Le Pen e Donald Trump não podem ter lugar no nosso mundo. As próprias democracias
como medida de autoprotecção deverão proibir qualquer manifestação intelectual
sob esses desígnios. A maneira mais simples de concretizar esse ideal é
simplesmente transcrevendo-o nas constituições e continuar a dar independência
ao poder judicial.